Sobre a marcha das vadias


Existe um certo assunto que tem me remetido á reflexões constantes... a pauta é a marcha das vadias. Pois bem, em um contexto sócio histórico é possível perceber que a causa feminista tem ganhado nuances que beiram a falta de bom senso e partido para uma apelação histérica.
A começar pelo nome: “marcha das vadias”. Gostaria de saber por que mulheres cultas e razoavelmente esclarecidas optaram por levar esta titulação? Mulheres que trabalham, estudam, pensam e são responsáveis pelo desenvolvimento de uma sociedade, deveriam intitular-se de maneira tão chula?
A razão para os protestos que se seguiram era boa, todos têm o direito à liberdade de expressão, entretanto houveram alguns excessos como é o caso da passeata realizada na avenida paulista em que mulheres deixaram seus seios à mostra para provar que eram livres. Até onde eu sei, nudez em ambientes públicos configura ato obsceno.  Se para as mulheres da passeata isso era normal, imagina se os homens inventam de baixar as calças e fazer um protesto parecido para reivindicar os direitos envolvendo sua masculinidade?
Acredito que o feminismo deveria ser mais sóbrio e assertivo, gostaria que as mulheres deixassem de lado reivindicações birrentas e interagissem em tom igual com os homens, racionalizando seus objetivos sem transformar tudo em um espetáculo emocional desnecessário.
Acho que atitude mesmo está em ajudar um asilo, fazer trabalho voluntário ou adotar uma criança, não em ficar tentando provar o tempo todo quem é o sexo mais forte.

Crítica social


Qualquer um que entre como atuante no âmbito social já deve ter tido aquele pensamento clichê de que indivíduos em situação de vulnerabilidade social são “coitadinhos”. Entretanto, ao aprofundar-se nas respectivas práticas vinculadas à ONG’s e seus derivados, percebe-se que há um jogo onde tramita o desinteresse coletivo pelo protagonismo e emancipação social (provindo das próprias comunidades) mas também há um desapego Estatal por suas devidas funções, lançando mão das mesmas para que a iniciativa privada possa servir-se, propondo uma filantropia medieval em que a dependência por iniciativas se faça presente entre os desprovidos de atenção governamental.
Nesta crítica não está inserido o intuito de posicionar-se, acatando uma das partes como correta ou errônea, mas sim expor a questão de maneira a apresentar suas falhas e tentar propor soluções para que em algum momento, esta leitura se faça útil para algum empreendimento.
De um ponto de vista sócio-histórico, com o surgimento da propriedade privada, ocorreram as disparidades entre determinados grupos. Os bens materiais eram divididos entre familiares, (obviamente famílias mais abastadas, visto que não somente a nobreza e a burguesia obtinham lucro mas também o clero). Os casamentos eram previamente combinados, os clãs  firmavam sociedade e perpetuavam suas finanças com grupos similares (dotes). Houveram outros processos históricos significativos como a revolução industrial e o embate entre capitalismo e socialismo.
O resultado disso tudo é que existe um mundo em que a diferença econômica é exorbitante, tanto que somente no Brasil, uma baixa porcentagem da população detém boa parte do conteúdo monetário nacional.
Como diz o ditado: “não adianta chorar pelo leite derramado”, em um país onde o capitalismo faz morada, deve-se consertar os desnivelamentos sociais com esforço, comprometimento e visão.
Entra-se então no ponto chave dessa discussão: o que as devidas partes estão fazendo para que haja um maior equilíbrio entre elas? Cada uma deve ter um papel ou o melhor seria uma ação conjunta?
Esmiuçando a questão, no que tange a intervenção estatal, sabe-se que o Brasil é um dos países onde o valor dos impostos é consideravelmente alto. O salário de seus representantes políticos também é elevado, então... há uma discrepância nessas informações, visto que temos um país que com a quantia de impostos arrecadados e com profissionais políticos bem pagos, ainda apresenta um desenvolvimento social precário. Falta foco, engajamento e organização por parte do governo.
A iniciativa privada procura fazer o “seu papel” nas questões sociais, vestindo “o manto da responsabilidade social” atua como personagem amenizador das realidades mais críticas, porém, torna as comunidades (clientes) dependentes dos produtos doados e/ou serviços prestados, sem despertar nessas mazelas nenhum tipo de sentimento de apropriação ou geração de autonomia.
Chega então o momento de citar os maiores interessados acerca da questão: as comunidades. As massas populares têm sido moldadas através dos tempos por intermédio de uma série de fatores: Expropriação social, econômica e cultural. Existem personagens principais em todo esse processo, a mídia por disseminar uma cultura disforme e bestializar seus espectadores com uma cultura banal, corrompendo valores primordiais que podem levar uma nação ao seu pleno desenvolvimento. Revistas de fofocas custam centavos enquanto aquelas que possuem informações relevantes são caras demais para o bolso de um pai de família. A programação televisiva ostenta o cúmulo da vulgaridade, o apelo ao consumo e a indução à individualidade. Programas com informação saudáveis geralmente são exibidos em horários inacessíveis.
A população acaba absorvendo tudo o que à ela é lançado e digere este conteúdo sem pestanejar. Não há uma construção de um pensamento crítico, este público ostenta este pseudo-conhecimento que consome, arraigado como um estigma.
A imobilidade começa a fazer parte das comunidades, o sentimento de impotência e dependência se faz presente. Os indivíduos então se percebem inaptos a articular com uma dura realidade e aceitam como verdade a fragilidade que lhe impõem. Esta resignação fez da população necessitada personagens acomodados, com autoestima baixa e sem perspectivas de melhorias. O pessimismo fez com que se auto-sabotassem, abandonando oportunidades de crescimento, deixando-se frustrar e aceitando passivamente a falácia de que são elementos inertes perante o cenário.
Através dessa desestruturação psicológica e social lançadas às comunidades carentes, é possível identificar um público desacreditado, tanto por si próprio como pelo externo.
É tempo de acordar, buscar ação social e planejamento estratégico.  A unção dos três pilares citados fará com que o país adquira maturidade e sucesso com o auxílio do desenvolvimento de sua nação. Cabe ao governo cumprir suas leis e planejar políticas públicas consistentes, visando primeiramente a fortificação dos planos e ações destinados à assistência social. A verba pública deve ser melhor investida e aplicada em educação pois através dela que um país pode crescer. Investimento em pesquisas e capacitação de profissionais tornam um país mais apto a chegar ao patamar de desenvolvido.
Quanto à iniciativa privada, seria ideal que investisse em treinamento e aperfeiçoamento profundo dos jovens vulneráveis socialmente, mas não uma simples capacitação, mas sim uma preparação para que este jovem possa integrar futuramente o quadro de funcionários da empresa, podendo ter a oportunidade de almejar cargos de chefia. Qualificar e especializar mão de obra é uma excelente saída, visto que ao preparar pessoas, é possível ter acesso a personalidades criativas e inovadoras, que por falta de acesso a uma informação adequada, possam estar perdidas como “pérolas jogadas aos porcos”.
Quanto às comunidades, é hora de conquistar seu espaço, buscar sua autonomia sem esperar que tudo venha de fora, acreditar que as conquistas são possíveis através de união e organização. Buscar melhorias para seus bairros, lutar, protestar e questionar. Todo ser humano é dotado de capacidade, a diferença é que alguns reconhecem que possuem garra e potencial e outros baixam a cabeça perante julgamentos alheios. Mas como diria Ernesto Che Guevara: “eles só parecem maiores porque estamos ajoelhados”.