Qualquer um que entre como atuante no âmbito social já deve
ter tido aquele pensamento clichê de que indivíduos em situação de
vulnerabilidade social são “coitadinhos”. Entretanto, ao aprofundar-se nas
respectivas práticas vinculadas à ONG’s e seus derivados, percebe-se que há um
jogo onde tramita o desinteresse coletivo pelo protagonismo e emancipação
social (provindo das próprias comunidades) mas também há um desapego Estatal
por suas devidas funções, lançando mão das mesmas para que a iniciativa privada
possa servir-se, propondo uma filantropia medieval em que a dependência por
iniciativas se faça presente entre os desprovidos de atenção governamental.
Nesta crítica não está inserido o intuito de posicionar-se,
acatando uma das partes como correta ou errônea, mas sim expor a questão de
maneira a apresentar suas falhas e tentar propor soluções para que em algum
momento, esta leitura se faça útil para algum empreendimento.
De um ponto de vista sócio-histórico, com o surgimento da
propriedade privada, ocorreram as disparidades entre determinados grupos. Os
bens materiais eram divididos entre familiares, (obviamente famílias mais
abastadas, visto que não somente a nobreza e a burguesia obtinham lucro mas
também o clero). Os casamentos eram previamente combinados, os clãs firmavam sociedade e perpetuavam suas finanças
com grupos similares (dotes). Houveram outros processos históricos
significativos como a revolução industrial e o embate entre capitalismo e
socialismo.
O resultado disso tudo é que existe um mundo em que a
diferença econômica é exorbitante, tanto que somente no Brasil, uma baixa porcentagem
da população detém boa parte do conteúdo monetário nacional.
Como diz o ditado: “não adianta chorar pelo leite derramado”,
em um país onde o capitalismo faz morada, deve-se consertar os desnivelamentos
sociais com esforço, comprometimento e visão.
Entra-se então no ponto chave dessa discussão: o que as
devidas partes estão fazendo para que haja um maior equilíbrio entre elas? Cada
uma deve ter um papel ou o melhor seria uma ação conjunta?
Esmiuçando a questão, no que tange a intervenção estatal,
sabe-se que o Brasil é um dos países onde o valor dos impostos é
consideravelmente alto. O salário de seus representantes políticos também é
elevado, então... há uma discrepância nessas informações, visto que temos um
país que com a quantia de impostos arrecadados e com profissionais políticos
bem pagos, ainda apresenta um desenvolvimento social precário. Falta foco,
engajamento e organização por parte do governo.
A iniciativa privada procura fazer o “seu papel” nas
questões sociais, vestindo “o manto da responsabilidade social” atua como
personagem amenizador das realidades mais críticas, porém, torna as comunidades
(clientes) dependentes dos produtos doados e/ou serviços prestados, sem
despertar nessas mazelas nenhum tipo de sentimento de apropriação ou geração de
autonomia.
Chega então o momento de citar os maiores interessados
acerca da questão: as comunidades. As massas populares têm sido moldadas
através dos tempos por intermédio de uma série de fatores: Expropriação social,
econômica e cultural. Existem personagens principais em todo esse processo, a
mídia por disseminar uma cultura disforme e bestializar seus espectadores com
uma cultura banal, corrompendo valores primordiais que podem levar uma nação ao
seu pleno desenvolvimento. Revistas de fofocas custam centavos enquanto aquelas
que possuem informações relevantes são caras demais para o bolso de um pai de
família. A programação televisiva ostenta o cúmulo da vulgaridade, o apelo ao
consumo e a indução à individualidade. Programas com informação saudáveis
geralmente são exibidos em horários inacessíveis.
A população acaba absorvendo tudo o que à ela é lançado e
digere este conteúdo sem pestanejar. Não há uma construção de um pensamento
crítico, este público ostenta este pseudo-conhecimento que consome, arraigado
como um estigma.
A imobilidade começa a fazer parte das comunidades, o
sentimento de impotência e dependência se faz presente. Os indivíduos então se
percebem inaptos a articular com uma dura realidade e aceitam como verdade a
fragilidade que lhe impõem. Esta resignação fez da população necessitada
personagens acomodados, com autoestima baixa e sem perspectivas de melhorias. O
pessimismo fez com que se auto-sabotassem, abandonando oportunidades de
crescimento, deixando-se frustrar e aceitando passivamente a falácia de que são
elementos inertes perante o cenário.
Através dessa desestruturação psicológica e social lançadas
às comunidades carentes, é possível identificar um público desacreditado, tanto
por si próprio como pelo externo.
É tempo de acordar, buscar ação social e planejamento
estratégico. A unção dos três pilares
citados fará com que o país adquira maturidade e sucesso com o auxílio do
desenvolvimento de sua nação. Cabe ao governo cumprir suas leis e planejar
políticas públicas consistentes, visando primeiramente a fortificação dos
planos e ações destinados à assistência social. A verba pública deve ser melhor
investida e aplicada em educação pois através dela que um país pode crescer.
Investimento em pesquisas e capacitação de profissionais tornam um país mais
apto a chegar ao patamar de desenvolvido.
Quanto à iniciativa privada, seria ideal que investisse em
treinamento e aperfeiçoamento profundo dos jovens vulneráveis socialmente, mas
não uma simples capacitação, mas sim uma preparação para que este jovem possa
integrar futuramente o quadro de funcionários da empresa, podendo ter a
oportunidade de almejar cargos de chefia. Qualificar e especializar mão de obra
é uma excelente saída, visto que ao preparar pessoas, é possível ter acesso a
personalidades criativas e inovadoras, que por falta de acesso a uma informação
adequada, possam estar perdidas como “pérolas jogadas aos porcos”.
Quanto às comunidades, é hora de conquistar seu espaço,
buscar sua autonomia sem esperar que tudo venha de fora, acreditar que as
conquistas são possíveis através de união e organização. Buscar melhorias para
seus bairros, lutar, protestar e questionar. Todo ser humano é dotado de
capacidade, a diferença é que alguns reconhecem que possuem garra e potencial e
outros baixam a cabeça perante julgamentos alheios. Mas como diria Ernesto Che
Guevara: “eles só parecem maiores porque estamos ajoelhados”.
1 comentários:
Querida professora,
as tuas palavras, opiniões e noção histórica dos fatos, demonstram uma sensibilidade social muito bacana. Ninguém mais defende nada. Coisa pequena ou grande é facilmente trocada pela conveniência da vida. Nossa sociedade está descansando as pernas, acredito. Um dia ela ainda há de levantar.
Um abraço,
LB
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